quarta-feira, 1 de maio de 2013

MILIONÁRIAS DO AGRONEGÓCIO

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DE WALL STREET PARA O RECÔNCAVO

Por: Por Viviane Taguchi, de São João da Mata Velha (BA)
A empresária Michelle Dorea trocou uma carreira de sucesso no mercado financeiro para encarar o desafio de revolucionar a pecuária de elite no Nordeste. Conseguirá?

"Resgatar a importância do rebanho baiano me instigou a desenvolver um modelo de negócios inédito no Brasil"
Michelle Coutinho Dorea,
economista e empreendedora rural
Teses revolucionárias: Elsimar Coutinho quer empregar todo seu conhecimento em reprodução humana no rebanho bovino na Bahia
Um rebanho de 1.100 animais nelore puro de origem pasta pelos campos da Fazenda Nossa Senhora da Paz, em São João da Mata Velha, no Recôncavo Baiano. Apoiada numa cerca branca que circunda a propriedade de1.500 hectares e termina engolida pela Mata Atlântica, Michelle Coutinho Dorea observa cada detalhe da boiada que leva no lombo a marca de um coração, símbolo da paixão. Pega o seu smartphone, ajeita os longos cabelos loiros e liga para o avô, o médico geneticista Elsimar Coutinho, e lhe faz mil perguntas, respondidas uma a uma com a calma típica de um bom baiano. Metralhava de dúvidas o médico veterinário da fazenda. Michelle quer aprender tudo sobre o gado, a fazenda e o dia a dia no campo. “Desde que cheguei aqui, não paro de perguntar.” A menina que nasceu em Londres, estudou em colégios europeus e formou-se economista nos Estados Unidos largou uma carreira de sucesso como analista financeira do Deutsch Bank, em Nova York, para começar, aos 27 anos, uma nova empreitada, agora focada no agronegócio: investir em seleção genética bovina no Nordeste com o BahiaEmbrio, único laboratório da região, o primeiro da América do Sul a oferecer uma central de vacas receptoras para fertilização in vitro, FIV , e que leva como cartão de visitas as marcas Genética Coutinho e Grupo Vitrogen, um dos líderes mundiais no setor. De volta à Bahia, terra onde ela passava longas temporadas, Michelle está apaixonada pela pecuária, pela tecnologia genética e, principalmente, pela natureza. “Investir no agronegócio é um fato inédito para mim, mas a cada dia descubro que a minha missão aqui é mais desafiadora do que as que eu tinha em Wall Street. Aliás, o mundo todo já está tomando conhecimento da enorme abrangência econômica do agronegócio brasileiro.” Ciente do desafio que tem pela frente e encarando o negócio com os olhos analíticos de multiplicadora de cifras, o que ela quer é usar todo o seu know-how para colocar a pecuária baiana em lugar de destaque no cenário nacional.
Seleção de primeira: modelo de negócios inédito permitirá a democratização da FIV no Nordeste
A cegonha no curral
A FIV é uma biotecnologia que inclui três etapas:
1
Na fazenda: aspiração do oócito de uma vaca doadora. *A média é de 15 a 20 oócitos
2
No laboratório: maturação e fertilização dos oócitos com o sêmen (na FIV, uma dose de sêmen é suficiente para fertilizar todos os oócitos) e cultivo in vitro do embrião por sete dias. *A etapa resulta em cinco a sete embriões
3
Na central de receptoras: implantação do embrião na(s) vaca(s) receptora(s) *Em cada animal, são implantados três a quatro embriões, que geram um prenhez
*médias para raças zebuínas

A empresária Michelle Dorea trocou uma carreira de sucesso no mercado financeiro para encarar o desafio de revolucionar a pecuária de elite no Nordeste. Conseguirá?

A mulher de negócios abandonou os tailleurs de grife para usar calça jeans e botas. Na fazenda, toca o gado e afaga os bezerrinhos com a habilidade de quem sempre fez isso na vida. “Eu sempre gostei das coisas da fazenda, mas nunca me envolvi diretamente com o gado ou com os negócios. Estou aprendendo muito sobre pecuária e quero mudar o perfil do rebanho baiano, resgatar sua importância para a economia nacional e democratizar a FIV nesta região”, diz ela. “Acredito que em um futuro muito próximo toda a cadeia do agronegócio brasileiro terá peso internacional.” A ideia de investir em seleção genética de gado na Bahia partiu do avô, em 2008. “Muita gente estranha meu interesse em investir em pecuária, mas eu nasci em fazenda, essa é minha origem e minha paixão”, revela Elsimar. “Com a experiência que adquiri na área de reprodução humana, eu não poderia deixar de aplicar este conhecimento na melhoria genética do rebanho, o que já faço há alguns anos aqui.” Aos 80 anos, e atuando em seis consultórios distintos, Elsimar não encontrava tempo para cuidar dos negócios rurais. “Conversando com ele (Elsimar), percebi que havia aqui uma oportunidade excelente para um empreendimento de sucesso. A falta de investimentos nesta área era um gargalo para a pecuária nordestina, sedenta por entrar neste segmento e competir igualmente com a região Centro-Sul”, conta Michelle, que se mudou para o Brasil nove meses após a inauguração do BahiaEmbrio. “Mas quando eu assumi, parei tudo e comecei de novo com a meta de multiplicar os lucros e a qualidade do rebanho do Nordeste.”
Solução logística: o BahiaEmbrio chamou a atenção dos pecuaristas baianos por reduzir todos os custos da FIV na região
Em seis meses, a executiva rural investiu R$ 1 milhão no laboratório, foi de norte a sul do País em busca de novos parceiros e conseguiu o que queria: retomar as atividades do BahiaEmbrio com capacidade para produzir dois mil embriões, 30% da capacidade total. Hoje, a produção mensal é de 100 embriões por mês, que geram cerca de 35 prenhezes, com preço médio de R$ 600 por prenhez, mais custos adicionais dos serviços que consegue agregar com a central de receptoras. Ainda assim, Michelle quer faturar R$ 800 mil no primeiro ano, com crescimento de 50% estimado para 2011. O BahiaEmbrio é o único empreendimento que oferece vacas receptoras próprias, 600, e estrutura para hospedagem de animais de terceiros, maternidade e baias para vacas inseminadas, o que faz do investimento um modelo de negócios inédito na América do Sul, capaz de moldar-se à demanda do cliente. “Oferecemos o pacote completo do ciclo de reprodução, que vai da aspiração do óvulo até a entrega do animal, atendendo algumas etapas, conforme as necessidades do pecuarista”, diz. “Esta empresária conseguiu criar um modelo diferenciado dentro deste mercado, utilizando-se da infraestrutura já existente. O empreendimento vai atrair investidores que não necessariamente sejam criadores de gado”, analisa André Dayan, presidente do Grupo Vitrogen, de Cravinhos (SP), pioneiro em FIV na América do Sul. “Com esta infraestrutura, o investidor não precisa nem ver o animal se ele não quiser. A Michelle faz todo o trabalho e entrega o animal para o outro comprador.” A garantia da prenhez é outro diferencial. Acostumada a assumir riscos na bolsa de valores, também assumiu na pecuária resultados garantidos. “O risco é meu, o cliente paga e leva”, garante a empresária. A viabilidade da aplicação comercial da FIV remete ao valor comercial do bezerro após a desmama. “Acima de R$ 3 mil, a FIV gera renda, caso contrário, o investimento não compensa”, explica Dayan.
"Pai do nelore":
Joãozito Andrade, tradicional pecuarista, aposta nos benefícios da seleção genética do rebanho

A empresária Michelle Dorea trocou uma carreira de sucesso no mercado financeiro para encarar o desafio de revolucionar a pecuária de elite no Nordeste. Conseguirá?
A ideia de oferecer um bom plantel de receptoras e, consequentemente, bezerros com valor de mercado agradou aos pecuaristas nordestinos rapidamente. “Era um enorme gargalo para os selecionadores baianos.” O próprio Elsimar sentiu essa dificuldade quando investiu no setor. “Aqui na Bahia não tinha uma central de receptoras apropriada e, para não comprometer os resultados, a solução era transferir os embriões em São Paulo ou Minas Gerais. Depois, as vacas vinham para cá, aumentando todos os custos do processo. Era caríssimo para o pecuarista e inviável para a maioria”, diz ele. “Criar a central foi tão importante quanto montar o laboratório. Além de aumentar as chances de bons resultados, simplifica a logística”, acredita o pecuarista baiano Joãozito Andrade, 90 anos, pioneiro da pecuária. “Uma boa receptora é crucial, tem que ter habilidade materna, estrutura corporal e receber os cuidados adequados para gerar o embrião. Tem que cuidar da mãe de aluguel com tanto zelo quanto todo o processo feito no laboratório, e nisso o Elsimar é mestre. O que eles trouxeram para a Bahia foi evolução.”
R$ 800 mil é o que a empresária Michelle Coutinho Dorea quer faturar no primeiro ano
Fazendo vidas
Técnicas de FIV em humanos vieram antes da bovina
1790 a 1940
Cientistas realizam fecundação de óvulos de estrelas do mar e ratos de laboratório
1959
Nasce o primeiro coelho FIV do mundo
1968
Experiências de sucesso geram o nascimento do 1º camundongo FIV
1971
Surgem as primeiras ovelhas FIV
1974
Nascem os primeiros porcos FIV
1978
Nasce o primeiro ser humano oriundo de técnicas de FIV, uma menina
1982
Pesquisadores finalmente conseguem ter êxito nas pesquisas com bovinos, com o nascimento de um bezerrinho. Foram utilizadas 22 vacas doadoras, sete receptoras, sêmen a fresco e congelado, que geraram 177 oócitos, e 52% deles foram fertilizados. Apenas uma prenhez obteve sucesso. O bezerro nasceu com 45 quilos, nos Estados Unidos


A empresária Michelle Dorea trocou uma carreira de sucesso no mercado financeiro para encarar o desafio de revolucionar a pecuária de elite no Nordeste. Conseguirá?
Onde há uma grande mulher... ...há um grande negócio
Organização e estratégia para alcançar metas são as principais qualidades destas mulheres do agronegócio
Michelle Dorea expõe o novo perfil do agronegócio: meninas que cresceram brincando entre o gado e a lavoura, observando avôs, pais e irmãos a lidar com a peonada transformaram-se em executivas do agronegócio moderno. Jovens e bem formadas, elas criaram modelos diferenciados reestruturando patrimônios já existentes, mas fadados a um padrão comum, e hoje faturam milhões de reais priorizando organização e estratégias inteligentes. Com elegância, delicadeza e autoridade, elas colocaram ordem na casa e o dinheiro em caixa.
Maria Stella Damha, herdeira do Grupo Encalso, quer faturar R$ 300 milhões até 2015 com as sete fazendas que administra há oito anos no interior de São Paulo, Minas Gerais e Goiás. Deixou de lado o mercado financeiro para ser empresária rural. Organizou e mudou o que precisava, otimizou o uso da terra, aumentando a produtividade de cada unidade, antes voltada apenas para a pecuária extensiva. Confinou 25 mil cabeças de gado e abriu espaço para a cana-deaçúcar, milho e soja, que já respondem por 50% do faturamento total. “Não sou apenas a filha do dono, sou uma profissional atuando em uma empresa rural.”
Para conseguir o que queria, Maria Stella teve que convencer os funcionários e sócios de que era preciso trabalhar como em uma multinacional. Incluiu reuniões de planejamento estratégico, gestão financeira e metas a serem alcançadas na rotina dos peões. “Precisávamos pensar em novas atividades que agregassem valor e novas rentabilidades.” Ela administra o negócio do escritório em São Paulo, mas visita as propriedades com frequência para acompanhar o negócio e cobrar resultados. “É preciso estar sempre de olho porque uma piscada pode ser prejuízo.” Antenada na bolsa de valores, é ela quem dita a hora certa para comprar ou vender bois. “O giro é constante e dinâmico. Se benfeito, o confinamento pode ser um excelente negócio, é uma questão de feeling.”

A empresária Michelle Dorea trocou uma carreira de sucesso no mercado financeiro para encarar o desafio de revolucionar a pecuária de elite no Nordeste. Conseguirá?
Marisa Saad compartilha da mesma filosofia. “É o olho do dono que engorda o negócio.” Por crer nisso, saiu dos bastidores da Rede Bandeirantes para dar vida aos negócios rurais da família. Sozinha e tendo como princípios lições do avô, João Saad, Marisa administra 4,5 mil hectares de cultivos de grãos e pecuária e consegue faturar R$ 500 mil ao ano. E ela não está satisfeita, quer mais. “Nos últimos anos, investi em organização, diversificação e profissionalização. Agora, quero aumentar números”, avisa a fazendeira, que aplicou neste ano R$ 1 milhão em infraestrutura, tecnologia na Fazenda Pantaleão, em Bragança Paulista, SP, e na aquisição de novas áreas. “Herdei do meu pai o gosto por comprar terras, mas não como hobby, mas uma oportunidade de negócios.”
Ela prefere cuidar dos negócios no campo e por isso concentra as terras nos arredores de São Paulo. Na Pantaleão, de 435 hectares, ela circula diariamente entre as lavouras de milho, soja e girassol, responsáveis por 40% do faturamento total da fazenda, e o rebanho de Simental. Os 3.500 animais selecionados movimentam o caixa. “Centralizo a administração na Pantaleão, mas trabalho em sinergia com todas as outras propriedades. Os tourinhos são encaminhados para outras fazendas para venda, cruzamentos industriais ou engorda, dependendo do mercado”. O modelo diferenciado de Marisa é a venda rápida de animais premiados. “Não mantemos estes animais aqui. A venda permite retorno rápido e corte de custos com o manejo.” Com os investimentos feitos, ela garante o nascimento de bons animais sempre. “Você tem que se garantir e arriscar para chegar aonde quer.”
Marisa Saad,
dos bastidores da Tevê para o campo
Herdeira do Grupo Saad, dono da Rede Bandeirantes, quer alavancar os negócios investindo em novas terras e infraestrutura. Sua meta é faturar
R$ 500 mil este ano
Maria Stella Damha, herdeira do grupo encalso, de olho na bolsa de valores
Mesmo atuando na capital paulista, ela acompanha o andamento dos negócios das sete fazendas que têm investimentos diversificados para alcançar o faturamento de R$ 300 milhões até 2015
"Não sou apenas a filha do dono, sou uma profissional atuando em uma empresa rural"

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