Brasília - O senador Demóstenes Torres (sem partido - GO) foi orientado pelo bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, a trocar o Democratas pelo governista PMDB para se aproximar do Palácio do Planalto para tentar fortalecer seus negócios. Diálogos obtidos pela revista Época mostram como Cachoeira interferia no mandato do senador, reeleito com 2,15 milhões de votos nas eleições de 2010.
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Senador iria para o PMDB com o objetivo de se aproximar da presidente Dilma | Foto: Divulgação
“E fica bom demais se você for pro PMDB… Ela quer falar com você? A Dilma? A Dilma quer falar com você, não?”, pergunta o contraventor. O senador responde: “Por debaixo, mas se eu decidir ela fala. Ela quer sentar comigo se eu for mesmo. Não é pra enrolar”. O bicheiro incentiva o encontro: “Ah, então vai, uai, fala que vai, ela te chama lá”.
A conversa, gravada com autorização judicial, ocorreu em abril do ano passado, quando Demóstenes era líder do DEM no Senado e um dos principais opositores do governo petista no Congresso. O Planalto informou à publicação que Dilma nunca recebeu o senador Demóstenes desde que assumiu a Presidência.
Segundo a reportagem, Demóstenes negociava a mudança de partido com a cúpula do PMDB e já tinha até autorização do Planalto. Mesmo assim, o parlamentar desistiu da ideia com receio de perder o mandato para o Democratas por infidelidade partidária. Além da abertura de um novo canal no governo, a troca tinha mais um propósito, segundo a reportagem: buscar uma futura indicação de Demóstenes para o Supremo Tribunal Federal (STF).
Tocantins
Na mesma gravação, Cachoeira pede ao senador que tente influenciar na decisão do ministro Luiz Fux, do STF, no julgamento de um recurso do ex-governador tocantinense Marcelo Miranda (PMDB), que foi inicialmente barrado pela Lei da Ficha Limpa. Nas eleições de 2010, Miranda foi o segundo mais votado na disputa para senador no estado. “Ele é um cara nosso”, disse o contraventor na conversa interceptada pela Polícia Federal.
Demóstenes se comprometeu a atender ao pedido de Cachoeira, mas a conversa com o ministro não chegou a ocorrer, de acordo com o próprio Fux. O ministro liberou a posse do senador eleito, mas voltou atrás dias depois, alegando que Miranda estava inelegível não pela Ficha Limpa mas pela condenação por abuso de poder econômico. Miranda nega ter qualquer relação com Cachoeira.
A primeira decisão de Luiz Fux foi comemorada por Cachoeira e Cláudio Abreu, um de seus sócios e diretor afastado da Delta Construções. “Chefia, o Marcelo Miranda é senador”, diz Cláudio. “O bom é que eu sei que ele vai ser procurador seu e meu, né?”
As gravações divulgadas pela revista mostram, ainda, que o bicheiro também demonstrava influência sobre outra importante figura da política de Tocantins, o ex-senador Eduardo Siqueira Campos, atualmente secretário estadual de seu pai, o governador Siqueira Campos (PSDB).
“Eduardo também é bom, Carlinhos. Não pode falar mal dele não, cara”, diz Abreu. “Ele mandou dar o negócio para nós lá: a inspeção veicular do Tocantins.” Eduardo Siqueira Campos também nega envolvimento com o bicheiro e diz que não há definição sobre a exploração da inspeção veicular no Tocantins.
Brasília
Em uma das gravações, Cachoeira e Abreu chegam a discutir, em outra conversa interceptada pela polícia, a possibilidade de a Delta conseguir um contrato de R$ 60 milhões para atuar no sistema automatizado de cobrança de passagem de ônibus. A construtora e o GDF afirmam desconhecer o assunto.
Preso há um mês na Penitenciária de Mossoró, no Rio Grande do Norte, Carlinhos Cachoeira pediu na quarta-feira transferência para Brasília. O bicheiro é acusado de comandar um esquema de jogo ilegal, com exploração de caça-níqueis, desmembrado pela Polícia Federal na Operação Monte Carlo.